HOMÍLIA: 10° Aniversário de Ordenação Sacerdotal do Padre Máxemo de Jesus.

Caros amigos, hoje peço permissão para quebrar o protocolo de não fazer esta homilia de maneira habitual, ou seja, da  forma falada e espontânea, pois todo o sentimento e inspiração que o Senhor colocou em meu coração e em meus lábios, assim como fez com o profeta Jeremias, preferi registrar por meio da escrita e agora faço chegar aos vossos ouvidos.

Ainda muito jovem, ouvi o chamado do Senhor à missão. Entretanto, respondi, assim como lhe respondeu o profeta Jeremias: “Ah! Senhor Deus, eu não sei falar, porque sou ainda uma criança!” (Jr 1, 6.). E nesse chamado misterioso que o Senhor me fez, busquei ansiosamente e com temor o que de mim ele desejava e de como corresponder a esse chamado interior que Ele me fazia continuamente. Então, entre o tempo de minha juventude, estudos e trabalho, fui pouco a pouco buscando acolher essa voz, tentando compreender   o seu significado e qual o lugar na sua Igreja onde Ele desejava me colocar. Nessa procura, entrei para   seminário Arquidiocesano Santo Antônio. Fiz experiência de Vida Diocesana, o que veio consolidar a certeza de que já não me pertencia e que não poderia fugir desse convite divino e   apaixonante. Contudo, o medo rondava-me por não me achar digno de tamanha honraria diante de minha própria pobreza e pela grandeza da voz intermitente que não se aplacava, enquanto minha liberdade ensaiava um gesto de fuga ao olhar celestial. Entretanto, confessei o meu sim definitivo em minha Ordenação Sacerdotal, no 5 de outubro de 2010. E mais uma vez, fiz uso das palavras do profeta Jeremias: “Seduziste-me, Senhor, e eu me deixei seduzir; tu te tornaste forte demais para mim, tu me dominaste” Jr 20, 7. O que sempre me atraiu em Jesus, foi a manifestação de sua compaixão descrita no evangelho de São Mateus (18, 15-20), onde o autor sagrado, mostra Jesus  nos ensinando como deve ser o comportamento cristão diante do pecador e a caminhada para a santidade. Jesus nos adverte que a lei fundamental do cristianismo é a lei do amor; que tudo perdoa, tudo acolhe, tudo ama. A ovelha desgarrada é o pecador. Jesus vai à sua procura com interesse e carinho e sente alegria em encontrar a sua ovelha. Assim aconteceu com Zaqueu, que desceu da árvore para atender ao apelo convocatório do Mestre, que dizia que iria hospedar-se na sua casa, cuja casa era de um pecador. Por esse gesto, a salvação entrou naquele lar. Aqui, Jesus nos aponta o comportamento correto dos cristãos: o perdão e a acolhida devem estar dentre as maiores riquezas do Cristão.

A minha vida sacerdotal durante estes dez anos, está impregnada da insondável misericórdia de Cristo. Na verdade, como Jesus pediu à Santa Faustina que escrevesse em sua Novena a Misericórdia Divina, também sinto  que a alma de todo sacerdote tem que  estar mergulhada nela, desde o nosso agir sacerdotal para com todos que nos procuram e que gostaríamos de servir, mesmo os mais distantes e desconhecidos, pois se não fosse dessa forma,  não seria um testemunho eloquente  deste canal de sua misericórdia sobre a Humanidade.

Como é belo e grandioso ser um sacerdote de Cristo! Mesmo que o mundo de hoje não compreenda a altura e profundidade desta vocação voltada para o transcendente e eterno. O sacerdote é separado do meio dos homens para favorecê-los através da absolvição dos pecados a consagração do pão e do vinho, para dar de Deus aos homens. E esta é definitivamente sua alegria mais intensa e única. Haverá outro modo melhor, senão este para permanecer no amor do Pai e do Filho, neste amor imperativo de Jesus, aludido no trecho do evangelho de São Mateus que hoje nós ouvimos? Para o sacerdote este é o melhor modo por excelência para guardar os mandamentos de Jesus, absolvendo com a SUA misericórdia  o pecador, que quer permanecer em seu amor e quer guardar suas palavras, servindo-lhe nesta comunhão tão estreita de amizade que se derrama na hora da santa missa, quando o sacerdote prega a palavra que não é sua e sim do Cristo que lhe chamou como Senhor e Amigo, num amor incomparável e inaudito, que se dá através do momento mais excelso do santo sacrifício, pois é  o Cristo presente no altar, após as palavras consecratórias  proferidas pelo sacerdote. Eis o grande milagre da fé, a Presença Real de Cristo nas mãos do sacerdote e que será distribuído como Pão da Vida e Pão dos Anjos para todos.

Creio que a vocação de um sacerdote também é engendrada pelos que o rodeiam antes e depois deste chamado divino e de sua ordenação. Ouso pedir ainda a permissão de todos nesta homilia, para falar em tom mais pessoal. Desde pequeno, sempre via como minha avó Rosa de Lima rezava todos os dias o seu terço e suas idas frequentes à Igreja, bem como o modo piedoso e natural como levava sua vida cristã. Devo, com toda certeza, parte da consistência de minha vocação ao testemunho de minha avó, como pessoa humana e cristã, pois a prática de sua fé era depois a vivência de sua vida. Por outro lado, de minha mãe Maria do Socorro herdei a razão iluminada pela fé, o gosto pelas coisas da religião e estar sempre aberto para sentir com o outro, um certo grau de compaixão e empatia. Sem minha mãe, eu não seria hoje o que sou. E também não poderia esquecer meu padrinho Zezico de crisma e ordenação, da Gleyci que com seu carinho e a nobreza de seus gestos mais simples, sempre foi um escudo e estímulo. E tantos bons e santos sacerdotes e religiosos que conheci durante o tempo de maturação para o sacerdócio, que não poderia desejar outro caminho.

Finalizo esta homilia, enfatizando que em minha vocação de padre tudo foi acontecendo de modo muito natural. Entre sombras e luzes, entre brisas suaves e ventos intrépidos, Deus me trouxe para o seu doce convívio. Sim, não fui eu que escolhi ou tracei o mapa desta viagem. Ele me trouxe até aqui e tem sido a minha melhor companhia, o meu melhor tesouro, a pérola mais valiosa com um brilho sem igual, que não ouso trocar por nenhuma outra. Obrigado a todos que vieram e que comigo agradecem a Nossa Senhora de Guadalupe pela predileção de Seu Filho por mim. Que São Francisco de Assis, nos dê o vigor apostólico que necessitamos para evangelizar para a honra e glória de Deus, a salvação do mundo e das almas. Amém!

Paço do Lumiar – MA, 6 de setembro de 2020

Padre  Máxemo de Jesus dos santos